Um domingo em Montevidéu

Viagem realizada em julho de 2018.

Os domingos costumam ser meio parados em quase todos os lugares, mas pelas minhas pesquisas vi que há bastante coisa para fazer em Montevidéu!

Nós reservamos esse dia para fazer a visita guiada no Teatro Solís. Como só começaria às 11h, aproveitamos para tirar mais algumas fotos na Plaza Independencia, que estava bem vazia.

Por volta das 10h30 as portas do teatro foram abertas e logo a fila para comprar o ingresso foi formada. Tinha bastante gente, por via das dúvidas é melhor chegar com um pouquinho de antecedência para não correr o risco de ficar para o próximo horário.

Teatro Solís com a fachada molhada e cartazes soltos devido à chuva e ventania do dia anterior. O pequeno farol que vemos no topo do edifício fica aceso em noites de espetáculo.

O Teatro Solís foi inaugurado em 1856 e é administrado pela Prefeitura de Montevidéu. Embora seja sugestivo, seu nome não tem relação com o sol, presente na bandeira do país e até mesmo na fachada do prédio. Solís é uma homenagem ao espanhol Juan Díaz de Solís, o primeiro navegador a explorar as águas do Rio de la Plata.

Saguão do teatro

Já no início da visita há uma “surpresa”, que não vou contar aqui para não perder a graça para você que está lendo e pensa em conhecer o teatro… rs. Escolhemos o tour em português e, com o grupo formado, seguimos o guia teatro adentro. Passamos por um corredor bem baixo e entramos no salão principal, lindo!

Sentados nas poltronas, ouvimos muitas informações interessantes sobre o teatro e os detalhes decorativos ali presentes, além de curiosidades, por exemplo, como o lustre lá no alto é limpo.

No teto, em números romanos, o ano que o teatro foi inaugurado.

Depois também passamos para outro salão, utilizado pela platéia para descansar entre um ato e outro e também onde as autoridades recebem seus convidados em ocasiões especiais.

A última sala visitada, chamada Sala Zavala Muníz, é destinada a pequenos espetáculos, shows e oficinas. O guia contou que muitos artistas preferem esta sala por ser mais intimista. Ela pode ser configurada conforme as necessidades, já que os assentos são removíveis.

Nós adoramos a visita, foi muito interessante! O guia, um jovem aluno universitário que ali estava estagiando, conduziu o passeio de forma super leve e espontânea.

Teatro Solís (site)

  • Horários: terça e quinta às 16h | quarta, sexta e domingo às 11h, 12h e 16h | sábado às 11h, 12h, 13h e 16h.
  • Preço: $U90 | às quartas a visita é gratuita
  • Duração: em torno de 40 minutos
  • Idiomas: português, inglês e francês

Após o teatro fomos andando em direção ao Mercado del Puerto para almoçar. Como a cidade fica bem vazia no domingo, decidimos ir pela rua de pedestres Sarandí, mais movimentada.

Peatonal Sarandí
Detalhes da cúpula azulejada.

Durante o trajeto também passamos pela Plaza Zabala, que fica ao lado do Palacio Taranco, antigo e luxuoso casarão da família Ortiz de Taranco (não abre aos domingos, mas visitamos durante a semana em nosso tour pela Ciudad Vieja, vale a pena!).

Inaugurada em 1890, a Plaza Zabala abrigava antigamente a Casa do Governo, demolida durante a ditadura. No centro da praça podemos observar a estátua equestre de Bruno Mauricio de Zabala, que fundou Montevidéu em 1724.

Descendo pela rua Solís encontramos a Iglesia San Francis de Assis, construída no local em que se encontrava o primeiro santuário de Montevidéu, construído pelos jesuítas em 1724 e logo depois transferido à Ordem dos Franciscanos. Infelizmente, teve que ser demolido em meados do século XIX, devido ao seu péssimo estado de conservação.

Reconstruída e inaugurada em 1870, a igreja tem arquitetura eclética, podendo-se observar elementos de diferentes épocas e estilos como o clássico greco-romano, medieval, gótico, entre outros. Atualmente estão sendo realizados trabalhos de restauração neste monumento histórico, pois sua estrutura tem sido gravemente afetada pela umidade.

Logo mais à frente, encontra-se o bonito edifício do Banco de la Republica Oriental del Uruguay, a instituição bancária mais importante do país, fundada em 1896.

Desde a sua criação, tem funcionado ininterruptamente, superando várias crises econômicas, como a de 1913, em que enfrentou retiradas massivas de depósito e teve seus bilhetes transformados em ouro.

Chegando próximo ao mercado já era possível enxergar a fumaça. Ao contrário da maioria dos mercados tradicionais, o Mercado del Puerto é um centro gastronômico destinado às parrillas, as famosas e conceituadas churrascarias uruguaias. O local divide opiniões: uns dizem que as melhores se concentram ali, outros recomendam fugir, por se tratar de um típico pega-turista. Decidimos conferir com nossos próprios olhos e panças.

Inaugurado em 1868, o edifício do Mercado del Puerto lembra uma estação ferroviária antiga e abriga em seu interior um centenário relógio de inspiração inglesa. Aliás, suas estruturas de ferro foram importadas de Liverpool.

O local estava bem movimentado. Muitos turistas, como o esperado, mas também locais, o que já deu uma animada. Ficamos em dúvida de qual restaurante escolher e acabamos optando por um dos mais comentados, o El Palenque.

Logo na entrada já vimos os asados (churrascos) sendo preparados. Os cortes são colocados em uma grelha inclinada sobre brasas de lenha, não utilizam carvão. Ao redor da churrasqueira há um balcão para os que desejam comer enquanto observam o preparo. A chance de sair defumado de lá é grande… rs. Apesar de que nós não sentamos lá e também ficamos…

O salão do restaurante estava cheio na parte de baixo, então fomos levados para o andar superior, que achei mais agradável, pois escolhemos uma mesa ao lado da janela.

Pedimos lomo (filé mignon) acompanhados por purê de batata e batatas fritas. Enquanto nosso pedido não chegava, o garçom nos trouxe uma cestinha com pães caseiros e quentinhos, azeite e sal. Este último pulava de mesa em mesa, acho que devido àquela lei que proíbe os saleiros nas mesas dos restaurantes.

Os pratos não demoraram muito para chegar. As carnes estavam macias, saborosas e bem feitas, adoramos, assim como os acompanhamentos. Porém, não vimos tanta diferença assim para outros lugares que comemos.

O El Palenque foi o lugar mais caro que comemos, mas não absurdamente mais caro. Achei discrepante mesmo foi o valor do cubierto, muito mais alto que de outros restaurantes que fomos. Foram 280 pesos uruguaios só de cubierto! Não cheguei a ver essa informação no cardápio, passou batido, por isso me espantei quando a conta chegou.

O ambiente é meio apertado e parece que lá no mercado todos são assim, mas o que me incomodou um pouquinho foi a correria dos garçons para lá e para cá para dar conta do movimento. Claro que não é culpa deles, afinal, estão fazendo o possível para agilizar o atendimento, mas acabou não sendo um almoço tranquilo… rs. Apesar do corre-corre eles foram simpáticos conosco.

Enfim, não saímos insatisfeitos, a comida estava ótima, mas quanto ao ambiente, percebemos que curtimos lugares mais calmos. Talvez se tivéssemos chegado um pouco mais cedo, a experiência teria sido mais proveitosa.

O cubierto, embora esteja descrito como couvert, não é o preço da cestinha de pão, mas sim uma taxa cobrada por pessoa referente ao uso dos talheres, pratos, copos. Esta prática é realizada em muitos restaurantes uruguaios. O valor cobrado geralmente vem descrito no cardápio. Além do cubierto, há a taxa de serviço de 10% ao garçom (valor anotado à caneta), que não vem inclusa na conta, antes de fechar eles perguntam se você deseja pagá-la.

Outro lugar bem recomendado no mercado é o “Empanadas Carolina“. Nós adoramos empanadas e queríamos experimentar a do Uruguai, mas a pança cheia não permitiu.

Depois do almoço, fomos ao Mercado de los Artesanos, localizado em frente ao Mercado del Puerto. Já tínhamos passado na unidade localizada na Plaza Cagancha, mas resolvemos comprar mais algumas coisinhas. Os artesanatos são lindos, um ótimo lugar para escolher lembrancinhas! Essa loja perto do porto fica aberta todos os dias das 10h às 17h.

Mercado de los Artesanos.

Como o tempo estava bom, pegamos um Uber e fomos até o Parque Rodó, um dos espaços verdes mais amplos da cidade. Estava bem movimentado, todos curtindo o domingão.

Vimos um lago com pedalinho e até pensamos em ir, mas sabe aquela moleza depois do almoço? Bateu. Decidimos então só caminhar pelo parque. Tinha gente se exercitando, passeando com o cachorro, gente estudando, curtindo seu mate, e muitas outras “lagartixando” sob o sol. Marido falou “parece que todos estão recarregando…” rs. E naquele frio de julho, após um sábado chuvoso, nada melhor que um solzinho mesmo. Tratamos de fazer o mesmo.

Na área do parque está localizado o Museo Nacional de Artes Visuales, mas acabei esquecendo de incluir no roteiro e não visitamos. O museu exibe uma vasta coleção de obras de artistas uruguaios. Além de exposições permanentes, conta com um espaço dedicado a obras de arte de outros países. Veja a programação aqui.

O museu é gratuito, abre de terças à domingos, das 13h às 20h e está localizado na Av. Tomás Giribaldi, 2283 esquina com a Av. Julio Herrera y Reissig.

Banheiro público pago. Funciona com moedas e a porta abre automaticamente. Não chegamos a utilizar.

Devidamente energizados, continuamos a caminhada e nos deparamos com uma feirinha repleta de barracas. A maioria vendia roupas de frio, mas também vimos muitas vendendo calcinhas, outras souvenirs (marido adorou uns fogõezinhos à lenha que soltavam fumaça), alguns artigos de couro…

A feirinha estava bombando, bastante gente comprando, a maioria população local. Gostei de alguns casacos e blusas, mas acabei não levando nada.

Feirinha do Parque Rodó. Nós passamos por lá por volta das 15h e algumas barracas já estavam sendo desmontadas.

Além dessa, há outra feirinha de rua aos domingos, a tradicional Tristán Narvaja, que acontece há mais de cem anos na capital. Na verdade, ela é uma feira imensa! Começa na esquina da Av. 18 de Julio com a R. Tristán Narvaja estendendo-se por grandes quarteirões. Funciona das 9h até 16h, mas por volta das 15h, muitas barracas já começam a ir embora.

Não chegamos a visitá-la, mas li que tem de tudo um pouco. Desde papel higiênico, frutas e verduras, roupas, animais, pneus de bicicleta, quinquilharias de todo tipo a livros usados e antiguidades. Assim, tudo junto e misturado. Dizem que não é um passeio para todos os turistas, é para quem curte mesmo esse lance. Tem gente que não vê graça alguma, outras se divertem e passam horas só observando as coisas inimagináveis ali vendidas. Veja um relato aqui.

Após a andança pelo Parque Rodó fomos indo em direção ao nosso hotel. O bairro Punta Carretas é muito gostoso de caminhar. A todo instante sentíamos o cheirinho de lenha queimando, vindo dos restaurantes e almoços em família. É algo que ficou marcado nessa viagem ao Uruguai.

Estava ventando bastante, mas decidimos passear um pouco pela Rambla. Esse era nosso último dia no país e ainda tínhamos esperança de curtir o pôr do sol, que não conseguimos ver em nenhum dia por conta do céu nublado.

Sacos plásticos e lixeira para o cocô do cachorro.

O céu continuava aberto, então fomos nos encaminhando a um dique ali por perto, quando marido diz “por que não assistimos ao pôr do sol no farol?” É mesmo, o Farol de Punta Brava! Achei ótima a ideia, mas acabou sendo excelente! 🙂

Estava ficando cada vez mais frio e a ventania não dava trégua, então pudemos nos abrigar no farol. Vez ou outra subia alguém, mas ficamos sozinhos a maior parte do tempo. O fim de tarde do último dia no Uruguai não poderia ter sido melhor!

Muitos carros iam chegando para curtir o entardecer.

Farol de Punta Brava

  • Horários: das 10 às 13h e das 14h30 até o pôr do sol.
  • Preço: $U25
  • Obs.: por questões de segurança, menores de 8 anos não podem subir.

Outras opções para o domingo em Montevidéu (clique nos sites para ver os horários de funcionamento):

Para jantar fomos a um restaurante que ficava bem pertinho do hotel, chamado Glück. O ambiente é bem espaçoso e decorado com várias peças de arte, muitas delas criadas pelo dono.

Pedimos ravioles, mas não estavam muito bons, já que a massa estava um pouco crua embaixo. Uma pena, pois o local é bem agradável e não cobram cubierto.

Na hora de pagar a conta tivemos uma desagradável surpresa: não aceitavam cartão de crédito! Como todos os restaurantes que fomos aceitavam, esquecemos de perguntar antes. Não tínhamos pesos uruguaios suficientes, mas aceitavam reais, com péssima cotação. Não tivemos escolha…

Voltamos ao hotel, nossa última noite caminhando no vento gelado do Uruguai. Antes de dormir, aquela bagunça de sempre para enfiar todas as garrafas de vinho, alfajores e doce de leite na mala e aquele medinho de ultrapassar o peso. Deu em cima! Quando fomos à Santiago ano passado, compramos uma balança para malas que foi um dos melhores investimentos de viagem… rs. O próximo será um adaptador universal de tomadas, o qual sempre pegamos emprestado dos meus pais.

No dia seguinte ainda tivemos tempo de tomar o ótimo café da manhã do hotel. Para ir ao aeroporto chamamos um Uber. E assim terminou nossa deliciosa viagem ao Uruguai…


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2 Replies to “Um domingo em Montevidéu”

  1. Ótimo artigo!
    Parabéns pelo trabalho!

    1. Muito obrigada, Marcos!

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