Torres del Paine em um dia. Trilha bate e volta.

próximos postsViagem realizada em janeiro/fevereiro de 2018.

Após uma inesquecível jornada pela Patagônia Argentina, onde visitamos lugares simplesmente maravilhosos, voltamos à Puerto Natales para nos aventurar pela Patagônia Chilena.

Um dos locais escolhidos por nós foi o Parque Nacional Torres del Paine. Seus 242.000 hectares compreendem belos lagos, rios, cascatas, glaciares e magníficas cadeias de montanhas, como a Del Paine e suas mundialmente famosas, Torres del Paine. Foi fundado como parque no final da década de 1950 e declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO, em 1978.

No parque há atividades para todos os gostos. Se você curte trekking, certamente já ouviu falar dos clássicos circuitos “W” e “O”. Ambos oferecem paisagens de tirar o fôlego, a diferença está no percurso e o tempo de duração de cada um, sendo necessário passar algumas noites em acampamentos ou alojamentos.

Também existem hotéis dentro do parque para aqueles que desejam uma estadia confortável, unindo passeios de carro e curtas caminhadas.

Quer dizer que é possível conhecer Torres del Paine de carro? Sim!!! Se você pensa em conhecer esse lugar, mas não curte fazer trilhas longas, pode conhecer alguns pontos do parque de carro. Algumas pessoas o alugam em Punta Arenas ou Puerto Natales ou vão até o parque com agências que fazem passeios full day por lá.

Nós que gostamos de caminhadas, optamos por fazer a trilha bate e volta até a base das Torres. A caminhada é longa, são cerca de 20 km e aproximadamente 10 horas, no total. O último trecho também é punk, tipo o da Laguna de Los Tres, de El Chaltén, mas olha a recompensa no final:

Base Torres del Paine. Imagem de Douglas ScortegagnaCC BY 2.0

Estávamos preparados psicologicamente para encarar essa trilha, só não contávamos com um acontecimento…

Senta que lá vem o “causo”…

No dia anterior chegamos em Puerto Natales com o tempo meio nublado. Por volta das 16h começou a chover e não parou mais. Durante a noite eu acordei e ainda estava chovendo.

O dia seguinte amanheceu lindo, céu azul e sol. Pegamos o ônibus às 07h15min na rodoviária e seguimos para o parque. Chegamos na Portaria Laguna Amarga antes das 9h. Embora já houvesse bastante gente na fila para pagar o ingresso, o processo foi rápido. Realizamos o pagamento no primeiro guichê e passamos para o balcão ao lado, onde uma funcionária nos entregou o mapa do parque e perguntou qual trilha iríamos percorrer. Informamos que faríamos a trilha para a base das Torres e a moça nos disse que deveríamos pegar uma van ao lado da portaria até a Hostería Las Torres (mediante pagamento à parte). Ver mais detalhes sobre isso aqui.

Após esse balcão, todos devem ir para uma salinha assistir um rápido vídeo sobre as normas do parque. Estávamos lá aguardando quando percebemos uma movimentação. Vimos pelo vidro da sala o semblante preocupado da moça que tinha acabado de nos atender.

O vídeo foi passado e no final vieram com a inesperada notícia: “a trilha para a base das Torres está interditada, pois a ponte que faz parte do trajeto foi quase toda submersa pelo rio, que transbordou”. A chuva do dia anterior tinha sido intensa mesmo!

torres del paine ponte alagada chuva relatos viagem.jpg
O Rio Paine transbordou e alagou a ponte.

Saímos da sala e fomos para o lado de fora. Todos estavam agitados, andando para lá e para cá, sem saber muito bem o que fazer. A travessia pela ponte alagada estava sendo feita somente por caminhonetes para levar os hóspedes que tinham reserva na Hostería Las Torres.

Tivemos que elaborar rapidamente um Plano B. Pegamos o mapa e olhamos as opções. Eram poucas as trilhas que poderíamos percorrer, pois estávamos atrelados aos horários de retorno do ônibus, o qual passa em apenas três locais (Laguna Amarga, Pudeto e Sede Administrativa) em horários determinados.

Escolhemos fazer a trilha que começa no Acampamento Paine Grande e segue até a Sede Administrativa do Parque. Seriam 17,5 km e tempo estimado de 5 horas! Porém, para chegar no acampamento, teríamos que ir da Portaria Laguna Amarga para a Portaria Pudeto e de lá pegar o catamarã até Paine Grande. Ou seja, começaríamos a trilha bem tarde e teríamos pouco tempo, pois o ônibus para retornar à Puerto Natales passaria às 18h na Sede Administrativa. Não sabíamos absolutamente NADA sobre essa trilha, mas fomos na coragem e otimismo… rs.

trilha um dia bate e volta torres del paine.jpg
Já que não foi possível fazer a trilha para a base das Torres, fizemos uma “trilha alternativa”.

E começa a aventura!

Decidido o trajeto, entramos novamente no ônibus que viemos de Puerto Natales. Na ida ele também passa naqueles três pontos do parque e você pode descer onde quiser. Saímos da Portaria Laguna Amarga às 9h45min.

O percurso até a Portaria Pudeto foi um tour à parte com paisagens incrivelmente lindas! Até o momento tínhamos visto apenas uma ínfima parcela do local, mas já estávamos encantados. Não à toa é considerado um dos parques naturais mais bonitos do planeta.

guanacos torres del paine trilha um dia bate e volta relatos viagem patagonia chilena
Avistamos guanacos pelo caminho.

torres del paine trilha um dia bate e volta relatos viagem patagonia chilena

torres del paine trilha um dia bate e volta relatos viagem patagonia chilena 2

Chegamos na Portaria Pudeto em torno das 10h15min. Deste local é possível fazer uma curta trilha, de 1 hora para o Mirador Cuernos. Muitas pessoas que também não puderam fazer a base das Torres, optaram por essa trilha.

Nós rapidamente seguimos por uma trilha para a área de embarque do catamarã. Porém, tivemos que aguardar até às 11h, o próximo horário de saída. Uma pequena fila começou a ser formada e, mais tarde, ficou bem extensa. Tanto que algumas pessoas não conseguiram embarcar no catamarã das 11h.

horarios catamara pudeto torres del paine relatos de viagem patagonia chilena.JPG

A travessia até o Acampamento Paine Grande durou cerca de 30 minutos e foi outro bônus desse nosso Plano B… rs. Navegamos pelo Lago Pehoé, admirando seu impressionante tom azul e a vista espetacular para a cadeia montanhosa Cuernos del Paine.

catamara lago pehoe torres del paine trilha um dia bate e volta relatos viagem.JPG
Todos virados para trás fotografando as lindas montanhas.

cuernos del paine vista lago pehoe catamara torres del paine trilha um dia bate e volta relatos viagem patagonia chilena.JPG

cuernos del paine catamara lago pehoe torres del paine trilha um dia bate e volta relatos viagem patagonia chilena.JPG
O topo dessas montanhas é formado por uma camada sedimentar e a parte intermediária, de granito. Terremotos, vento e neve são os responsáveis por seus singulares formatos.
catamara acampamento paine grande lago pehoe torres del paine trilha um dia bate e volta relatos viagem patagonia chilena.JPG
Quase chegando…

Antes de desembarcar tivemos que pagar a tarifa do catamarã, feito na parte de dentro do mesmo. Ainda bem que tínhamos levado uma graninha extra!


Tarifa do Catamarã (fevereiro/2018)

Ida: 18.000 CLP | 30 USD

Ida e volta: 28.000 CLP | 50 USD


Passamos rapidamente no Acampamento Paine Grande para ir ao banheiro e depois já fomos procurar o início da trilha.

acampamento paine grande torres del paine trilha bate e volta relatos viagem.jpg

Tínhamos visto uma placa que mostrava a direção da Sede Administrativa (nosso destino final), porém nenhum indicação do início do percurso. A sorte é que quando estávamos chegando de catamarã, vimos um casal subindo a montanha ao lado do lago e presumimos começar ali.

trilha bate e volta acampamento paine grande ate sede administrativa torres del paine relatos viagem.jpg
O começo da trilha é essa “subidinha” marota lá no fundo.

Não tínhamos certeza se era ali mesmo e não havia ninguém próximo para perguntar, então resolvemos subir o morro, pois o tempo estava correndo. Já era meio-dia, tínhamos 5 horas para percorrer os 17,5 km, exatamente o tempo informado no mapa. Seria bem puxado!

Na metade da subida comecei a me preocupar. Será que encontraríamos mais trechos assim durante o percurso? E o tempo, será suficiente? As interrogações na minha cabeça logo se dissiparam quando resolvi curtir a caminhada.

Seguimos nosso caminho, surpresos com tamanha beleza. “A gente vai ter que voltar para cá”, disse meu marido impressionado. Essa deve ser uma constatação comum de quem passa por Torres del Paine.

trilha um dia bate e volta torres del paine lago pehoe patagonia chilena relatos viagem.JPG
Lago Pehoé.
trilha um dia bate e volta torres del paine lago pehoe patagonia chilena relatos viagem 2.jpg
Do alto vimos trilhas demarcadas, então soubemos que estávamos no caminho certo.

A trilha prosseguiu margeando o lago até chegar numa pequena ponte, cujo trecho que a antecedia estava parcialmente alagado. A forte chuva do dia anterior também tinha deixado marcas em outros locais do parque.

Foi aí que a impermeabilidade de nossas botas da Quechua foi colocada à prova pela primeira vez. Foi um momento tenso, pois se ela falhasse nós estaríamos lascados.

Felizmente, deu tudo certo. Quando cheguei na ponte, achei que a parte de cima estava molhada por dentro, mas percebi que estava apenas gelada por ter ficado um tempinho submersa.

ponte alagada trilha torres del paine relatos viagem patagonia chilena.JPG
Trecho alagado que tivemos que atravessar.
trecho alagado trilha torres del paine bota quechua impermeavel.JPG
Botas aprovadas! \o/

trilha um dia bate e volta torres del paine lago pehoe patagonia chilena relatos viagem 3.JPG

Seguimos caminhando por um bosque seco e acabei me lembrando de um trágico acontecimento. Em 2011, foi registrado o maior incêndio já ocorrido na região, provocado por imprudência de um turista, que iniciou uma fogueira com papel higiênico no interior do parque. O fogo rapidamente se alastrou, queimando uma área de 17.600 hectares! Antes disso, outros grandes incêndios também já tinham ocorrido por negligência de turistas.

trilha um dia bate e volta torres del paine lago pehoe patagonia chilena relatos viagem 4.JPG

trilha um dia bate e volta torres del paine bosque seco patagonia chilena relatos viagem

O percurso continuou lindo. Em um momento caminhamos bem na beira da montanha, sorte que não estava ventando forte!

trilha bate e volta paine grande ate sede administrativa torres del paine relatos viagem.JPG

trilha bate e volta acampamento paine grande ate sede administrativa torres del paine relatos viagem 2.jpg

Após uma hora de trilha, chegamos no Mirador Pehoé e sua linda vista para a cadeia montanhosa. Ainda tínhamos muito chão pela frente.

mirador pehoe trilha bate e volta torres del paine.jpg

mirador pehoe trilha bate e volta torres del paine relatos viagem.JPG

A partir do mirador, o caminho foi bem tranquilo, com poucos desníveis. Passamos por cavalos pastando, vimos grandes lebres e por um bom trecho fomos margeando o largo e extenso Rio Grey.

mirador pehoe trilha bate e volta torres del paine paine grande ate sede administrativa.JPG

trilha bate e volta torres del paine rio grey trilha paine grande ate sede administrativa.JPG
Caminhando ao lado do Rio Grey.

Passamos por outro trecho alagado. A trilha nos levava a uma pequena “lagoa” formada devido à forte chuva. Tivemos que sair do trecho demarcado, andando ao redor pensando estar seco, mas a vegetação escondia o solo encharcado. Afundamos o pé na água gelada e novamente as botas impermeáveis nos salvaram.

trilha bate e volta acampamento paine grande ate sede administrativa torres del paine relatos viagem 3.JPG

trilha bate e volta torres del paine trecho alagado relatos viagem.JPG
Mais um trecho alagado durante a trilha.
trilha bate e volta torres del paine trecho alagado relatos viagem 2.jpg
A estaca no meio da água indica onde passava a trilha.

Estávamos caminhando a um bom tempo e, como não enxergávamos nada adiante além do horizonte, começamos a ficar um pouco aflitos. Onde estaria essa bendita Sede Administrativa? Não havia ninguém para perguntar, eramos somente nós e aquela imensidão.

Como que enviada para nos trazer um certo alívio, uma placa apareceu logo mais à frente, por volta das 15h. Estávamos dentro do tempo previsto, mas ainda tínhamos um trecho de 6 km e horário para chegar, afinal, o ônibus partiria da Sede às 18h.

De acordo com o mapa que nos entregaram na entrada, o percurso total marcava 17,5 km ao invés de 16,5 km, como informava a placa. Bem, pelo menos sabíamos onde estávamos.

mirador las carreteras trilha um dia bate e volta torres del paine relatos viagem patagonia chilena.JPG

Esse último trecho foi feito em um terreno totalmente plano e aberto. Aproveitamos para apertar o passo. O Rio Grey já não podia ser visto. Tivemos como companhia as lindas montanhas do lado esquerdo, lebres apressadas que cortavam o campo como foguetes e curiosas aves de bico fino, encurvado e longo, chamadas bandurrias.

trilha um dia bate e volta torres del paine relatos viagem patagonia chilena.jpg
A gente andava, andava e não enxergava nada além do horizonte.
bandurria ave torres del paine.JPG
Bandurrias, as quais já tínhamos encontrado em El Calafate, na Argentina.
trilha um dia bate e volta torres del paine montanhas cuernos del paine patagonia chilena relatos viagem 2.jpg
Ah essas montanhas… <3

Nós aumentamos tanto o ritmo que chegamos na Sede Administrativa por volta das 16h20. Estávamos exaustos e gratos por ter conseguido chegar a tempo. Alguns turistas circulavam pelo local, que conta com um centro de visitantes com informações sobre o parque e um mirador que se estende para o lindo Lago Toro.

lago toro torres del paine sede administrativa trilha alternativa relatos viagem.JPG

lago toro torres del paine sede administrativa trilha alternativa relatos viagem 2.jpg

Marido estava tão esgotado que chegou e se esparramou no gramado. Tínhamos um bom tempo para descansar. Mas o dia não poderia terminar sem mais emoções, não é? rs

Quase perdemos o busão!

Próximo às 18h fomos até o estacionamento. Sentamos nas muretinhas e ficamos aguardando nosso ônibus. Nesse intervalo alguns chegaram, pegaram seus passageiros e partiram. Já tinha passado do horário previsto e nada. Um pouco antes, um ônibus de uma outra empresa estacionou lá e o motorista saiu. Algumas pessoas foram embarcar, mas pelo que vimos de longe, ele falou algo que as fez voltar.

Achamos estranho e só para confirmar, perguntamos para uma funcionária da Sede se o ônibus da Buses Gómez realmente parava naquele estacionamento ou em outro local. Com a resposta positiva, sentamos novamente.

Quase 18h20min e nem sinal do busão. Passado uns 10 minutos, o motorista do ônibus estacionado deu sinal que ia partir. Nisso, marido mais que ligeiro foi lá falar com ele e perguntar se sabia algo sobre o ônibus da nossa empresa que ainda não tinha passado.

Aí o moço diz “Ah, vocês vieram com a Buses Gómez? Podem subir, foi combinado que  eu pegaria seus passageiros e de outras empresas e levaria todos até Pudeto. Aí cada um vai para o seu ônibus, eles estão aguardando lá”. Caraca…

A gente nem tinha cogitado essa possibilidade, pois lá em Pudeto quando desembarcamos na ida para pegar o catamarã, eu tinha perguntado para o motorista se eles passariam na Sede às 18h mesmo. Ele confirmou, então pensávamos que se tratava de um belo atraso.

E nessa, quase ficamos ali no parque… rs. Sorte que marido foi esperto e questionou.

cuernos del paine torres del paine um dia no parque.jpg
Vista do busão, indo para Pudeto.

Após a troca de ônibus em Pudeto, fizemos mais uma parada na Laguna Amarga. Algumas pessoas entraram e finalmente saímos em direção à Puerto Natales. Capotamos e só acordamos quando estávamos quase chegando.

Desembarcamos por volta das 22h30min na rodoviária. Os guichês das empresas de turismo ainda estavam abertos. Estávamos moídos, mas antes de voltar para o hostel, passamos num mercadinho ali perto, a única opção aberta. Não tinha nada pronto para comer, estávamos loucos por empanadas quentinhas, mas só havia latarias e bebidas. Resolvemos comer uns chocolates que tínhamos comprado no dia anterior e pronto.

No dia seguinte acordamos um pouco mais tarde, tomamos café e partimos para nosso próximo e último destino, Punta Arenas! Visitamos a Isla Magdalena com seus simpáticos pinguins-de-magalhães e a ZonAustral, a Zona Franca.

Deixe um comentário